Em 2007, quando um pequeno canal a cabo norteamericano estreou uma série sobre uma agência de propaganda em 1960,os produtores não desconfiavam que tinham uma mina de ouro nas mãos. Com roteiro muito bem estruturado por Matthew Weiner (ex-Sopranos), Mad Men encantou a todos por mostrar os nostálgicos anos 60, com muito sexo, bebidas e cigarro (muito cigarro, aliás) e nada de vigilância politicamente correta. Os homens eram machos e as mulheres espertas o bastante para fingirem-se de tolas. Assim, os caras transavam com suas secretárias e elas se aproveitavam disso para conseguir concessões e grana para o almoço. Recheados de personagens interessantíssimos e uma reconstituição de época impecável, a série provocou alguns efeitos colaterais. O primeiro - muito bom - é ter se tornado referência fortíssima na cultura pop e no imaginário masculino. O segundo, inevitável e não tão louvável, gerar filhotes concorrentes.
Estreou este mês de setembro na TV americana mais duas séries que tentam emular a década de transformação americana (nós tivemos o azar de, no meio dela, os militares assumirem e cortarem o barato da contracultura): Pan Am e The Playboy Club cada uma explorando um grande ícone dos EUA naquela época e que se tornariam símbolo de requinte, sofisticação e mulher bonita. O grande problema é que, ao contrário de Mad Men, as duas parecem comportadas demais (pelos menos, transparaceu isso nos pilotos).
Pan Am mostra a vida das aeromoças (na época elas eram chamadas assim) e pilotos da companhia aérea que dominou os céus do mundo até falir em 1991. Fala da imposição em peso e beleza para as meninas (coisa que se perdeu no tempo em algumas empresas), as aventuras amorosas e a aportunidade de viajar pelo planeta num tempo em que só a classe A mais conseguia entrar num avião. Só que a história tem lances de fotonovela da época. Dentro do mais profundo chavão de roteiro, temos a comissária que descobre que seu namorado é casado quando ele embarca num vôo em que ela é atendente, a garota rebelde e espertinha que tem a chance de crescer ao assumir o cargo de aeromoça-chefe (papel que cai como uma luva na icônica Christina Ricci), as irmãs comissárias (uma abandonou a cerimônia de casamento para conhecer o mundo), o capitão da aeronave que é abandonado pela namorada comissária e - por incrível que pareça - a aeromoça que se torna espiã da CIA (eram os tempos da Guerra Fria). Ou seja, Pan Am tenta fazer para as mulheres o que o seriado sobre publicidade fez para os homens, mas não empolga muito. Tudo muito certinho (ninguém acende um cigarro no avião), a música é nauseabundamente clichê e no final tem-se a impressão que é a Globo fazendo novela. Além disso, enquanto Mad Men trabalha justamente em como as fantasias artificiais são criadas nas agências de propaganda, Pan Am parece se apoiar no fato de que nossas fantasias em relação às equipes das aeronaves - especialmente desta clássica companhia - são reais e factíveis. Praticamente, um conto de fadas tornado real. Resta ver agora se a coisa decola (trocadilhos são inevitáveis) nos próximos capítulos ou se ficaremos apenas na água com açucar.
Já The Playboy Club foca na vida das coelhinhas do primeiro clube de Hefner, aberto em Chicago. Amber Head faz Maureen, a nova coelhinha (clichê 1), que todos desejam (clichê 2) e que desperta o ciúme da primeira e mais antiga coelha (clichê 3), porque se envolve com o amante desta, um advogado ascendente (clichê 4), que virou as costas para a família mafiosa (clichê 5). Na melhor tradição de novela global - olha ela aí de novo - a moça se mete com o causídico porque os dois, sem querer, assassinaram o chefão do crime da cidade. Aí - nessa confusão toda - perde-se o que seria fundamental para uma série sobre o maior clube masculino de todos os tempos: erotismo e sensualidade. Tirando a coelhinha negra - interpretada pela bela Naturi Naughton - as outras moças são todas santinhas e chatinhas, cheias de princípios sólidos e de roupas. É por isso que a NBC, produtora da série, já cancelou a brincadeira depois de apenas três episódios. A coisa não agradou nenhuma instância, uma vez que a audiência foi péssima e ainda tiveram que enfrentar a fúria da Associação de Pais Americanos que não queriam um seriado sobre promiscuidade. Talvez os índice de público fosse maior se realmente houvesse promiscuidade, oras.
Quem quiser ver como a vida de Don Draper e seus amigos da Sterling Cooper continuará em 1965, vai ter que esperar até 2012, quando a quinta temporada de Mad Men chega à TV. Se a saudade dos anos 60 bater e você não tiver como ver os novos seriados, então terá que se contentar com Amor e Revolução.
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